segunda-feira, 18 de março de 2019

O texto é um rio que incendeia

O trabalho do escritor é uma atividade difícil. Eu sinto necessidade de escrever, sei que preciso escrever, tenho muito sobre o que escrever, e diante da tela ou da folha em branco parece que nada disso tem importância. E eu me sinto um homem pré-histórico com o pau e a pedra nas mãos, mas sem o fogo. Um homem que sabe provocar o atrito entre o pau e a pedra, um homem que já desenvolveu técnicas manuais interessantes para facilitar seu trabalho, mas que, mesmo assim, vez ou outra se pega com o pau e a pedra nas mãos e a incapacidade de fazer queimar a alma das pessoas com as minhas palavras.

Às vezes acho que ando escrevendo muitos textos que falam deles mesmos. Tenho a ânsia de escrever e parece que as ideias não fluem, aí só escrevo, escrevo, sobre o ato de escrever. Comecei um texto sobre a necessidade de parar quando se sentir perdida, confusa, sozinha, sufocada. Depois comecei outro sobre olhar menos para o celular e mais para fora dele. Senti que a escrita não fluía e me deu agonia, como ter sono e insônia na mesma noite.

Talvez seja isso que eu tenha que escrever hoje; essa escrita que vai acontecendo à medida que vou escrevendo, sem prever um tema, sem idealizar nada e sem organizar tais ideias. O texto só vai, vai, e fim. Como um rio que sai de uma calma nascente e só vai, segue até o mar, fluindo sem muitos obstáculos e desemboca. E dá paz, porque cumpriu o seu propósito. 


Um texto de Aline Menezes, criadora do Blog O quarto de Aline

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