terça-feira, 6 de março de 2018

O que aconteceu com a morte?


Genevieve Pierrot acabara de abrir seu próprio consultório. Desde o primeiro semestre da faculdade imaginava-se cuidando de seus pacientes, mas ela não esperava que algo tão surpreendente pudesse ocorrer.
"Uma mesinha de centro com um jogo de xícaras, um bule de chá e de acompanhamento alguns biscoitos. Uma poltrona confortável, para mim, claro, e para meus pacientes um divã roxo... Não... AZUL!" – Devaneava em como seria sua sala.
Finalmente atenderia sua primeira paciente.
- Seja bem vinda à sua primeira sessão. Meu nome é Genev... – Antes que pudesse terminar seu nome, a senhora a sua frente se adiantou.
- Não tenho muita disposição para essa cordialidade, principalmente quando já sei exatamente tudo sobre você. Pularemos para a parte em que me deito nesse divã e digo sobre minha vida, ou melhor, o que vem a afligindo.
- É... Bem... Não, digo... Como sabe meu nome?
- Ora vejamos... Eu sou a MORTE, sei tudo sobre todos.
Seu olhar era penetrante, mas ocultava um sentimento de tristeza, mágoa ou coisa parecida. Trajava um vestido preto, modelo evasê rodado, com rosas vermelhas como sangue, estampadas na parte inferior. Usava um salto scarpin vermelho. No topo de sua cabeça óculos escuro modelo clubmaster, armação prata. O corte do cabelo era curto com uma franja reta, coloração escura, mas não chegava a ser preto.
- Você está brincando né?! – Senhorita Pierrot sorria na tentativa de não transparecer certo receio de acreditar naquelas palavras.
- Você tem o direito de não crer nisso, mas se te ajudar a digerir tal informação meus conselheiros estão na sala de espera.
- Não... Eu acredito em você. – Faz parte do tratamento, concordar com as informações dos pacientes, mesmo que sejam fictícias.
A Morte deitou no divã e, encarando o teto, esperou que a psicóloga começasse a sessão.
- Tudo bem... – sussurrou Genevieve – Para começarmos, você se sente à vontade de me contar o motivo de sua angústia?
- Claro. Estou angustiada por causa da solidão causada pelo meu trabalho. As pessoas estão sempre tentando me evitar. Falam de mim como se eu fosse a pior pessoa. Me culpam por suas tristezas. Dizem que sou o motivo de dor. Então eu decidi entrar em greve!
- Ok... E o que pretende com essa greve?
- Ser notada. Talvez amada como minha irmã!
- Conte-me sobre sua irmã.
- Vida... Todos a veneram, desde os primórdios da existência humana, a Vida é vista como a heroína do mundo. Ela traz a luz para as pessoas. E quanto a mim? Nunca se lembram de que eu acabo com o sofrimento de algumas pessoas, ou de que as levo para a luz. NÃO! Ninguém gosta da Morte.
"Ela está levando essa história muito a sério."
- Então você acredita que com a greve as pessoas passarão a te ver com outros olhos?! Entendo... E por quanto tempo pretende fazer essa greve?
- Não determinei... Se funcionar, posso nunca mais voltar. Quem sabe me amem mais? Ou estarei apenas me iludindo e essa greve me levará ao esquecimento total. – Dizia com lágrimas se formando em seus olhos cinzas. – O que eu fiz para fugirem de mim? Sou feia? – Ela sentou-se e encarou a jovem psicóloga. – Estou fora de moda? Ou... Ou talvez eu tenha mau hálito? – Aproximou-se e soprou o rosto de Genevieve esperando que ela respondesse que talvez esse fosse o problema.
- Não, você...
- Eu já sei! Vou usar essa greve como um tempo para dar uma repaginada. Quem sabe um cabelo longo – 'PUFF' seu cabelo ficou longo, no cumprimento da cintura. – Talvez uma cor diferente combine também... – 'PUFF' seu cabelo agora estava azul.
- Uau! – “Isso quer dizer que ela é de fato a morte!”– pensou aterrorizantemente encantada.
- Você acha que eu exagerei?
- Na verdade acho que isso não muda o fato de você ser a morte.
- Então você não gostou?
- Não foi o que eu disse! Só falei que sua responsabilidade continua sendo a mesma.
"PUFF" E ela voltou ao normal e deitou-se novamente.
- Tem razão...
- Existem pessoas que estão esperando por você, talvez elas estejam tão agoniadas em seus leitos, ansiando o momento que você as conduzirá para a luz. Só você pode fazer isso.
- Você está completamente certa! - A Morte se animou e então sentou-se. - Muito Obrigada! Você foi extremamente gentil comigo, em retribuição, não a levarei hoje e assim pago minha divida contigo, mas sugiro que contrate uma nova secretária, pois a madame Montrevill acaba de se engasgar com uma torrada. Obrigada por me lembrar da minha importância, agora devo ir e desangustiar a Magda. Adeus, até a sua chegada ao outro lado, ou venha me visitar, Travessa das Almas Nº 1459.


P.S: Desfecho não me agradou muito, mas estava com sono quando escrevi então dou um desconto a mim mesma!

Texto da colunista Julia Barbosa

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