Genevieve
Pierrot acabara de abrir seu próprio consultório. Desde o primeiro semestre da
faculdade imaginava-se cuidando de seus pacientes, mas ela não esperava que
algo tão surpreendente pudesse ocorrer.
"Uma
mesinha de centro com um jogo de xícaras, um bule de chá e de acompanhamento
alguns biscoitos. Uma poltrona confortável, para mim, claro, e para meus
pacientes um divã roxo... Não... AZUL!" – Devaneava em como seria sua
sala.
Finalmente
atenderia sua primeira paciente.
- Seja bem
vinda à sua primeira sessão. Meu nome é Genev... – Antes que pudesse terminar
seu nome, a senhora a sua frente se adiantou.
- Não
tenho muita disposição para essa cordialidade, principalmente quando já sei
exatamente tudo sobre você. Pularemos para a parte em que me deito nesse divã e
digo sobre minha vida, ou melhor, o que vem a afligindo.
- É...
Bem... Não, digo... Como sabe meu nome?
- Ora
vejamos... Eu sou a MORTE, sei tudo sobre todos.
Seu olhar
era penetrante, mas ocultava um sentimento de tristeza, mágoa ou coisa
parecida. Trajava um vestido preto, modelo evasê rodado, com rosas vermelhas
como sangue, estampadas na parte inferior. Usava um salto scarpin vermelho. No topo
de sua cabeça óculos escuro modelo clubmaster, armação prata. O corte do cabelo
era curto com uma franja reta, coloração escura, mas não chegava a ser preto.
- Você
está brincando né?! – Senhorita Pierrot sorria na tentativa de não transparecer
certo receio de acreditar naquelas palavras.
- Você tem
o direito de não crer nisso, mas se te ajudar a digerir tal informação meus
conselheiros estão na sala de espera.
- Não...
Eu acredito em você. – Faz parte do tratamento, concordar com as informações
dos pacientes, mesmo que sejam fictícias.
A Morte
deitou no divã e, encarando o teto, esperou que a psicóloga começasse a sessão.
- Tudo
bem... – sussurrou Genevieve – Para começarmos, você se sente à vontade de me contar
o motivo de sua angústia?
- Claro.
Estou angustiada por causa da solidão causada pelo meu trabalho. As pessoas
estão sempre tentando me evitar. Falam de mim como se eu fosse a pior pessoa.
Me culpam por suas tristezas. Dizem que sou o motivo de dor. Então eu decidi
entrar em greve!
- Ok... E
o que pretende com essa greve?
- Ser
notada. Talvez amada como minha irmã!
- Conte-me
sobre sua irmã.
- Vida...
Todos a veneram, desde os primórdios da existência humana, a Vida é vista como
a heroína do mundo. Ela traz a luz para as pessoas. E quanto a mim? Nunca se
lembram de que eu acabo com o sofrimento de algumas pessoas, ou de que as levo
para a luz. NÃO! Ninguém gosta da Morte.
"Ela
está levando essa história muito a sério."
- Então
você acredita que com a greve as pessoas passarão a te ver com outros olhos?!
Entendo... E por quanto tempo pretende fazer essa greve?
- Não
determinei... Se funcionar, posso nunca mais voltar. Quem sabe me amem mais? Ou
estarei apenas me iludindo e essa greve me levará ao esquecimento total. – Dizia
com lágrimas se formando em seus olhos cinzas. – O que eu fiz para fugirem de
mim? Sou feia? – Ela sentou-se e encarou a jovem psicóloga. – Estou fora de
moda? Ou... Ou talvez eu tenha mau hálito? – Aproximou-se e soprou o rosto de
Genevieve esperando que ela respondesse que talvez esse fosse o problema.
- Não,
você...
- Eu já
sei! Vou usar essa greve como um tempo para dar uma repaginada. Quem sabe um
cabelo longo – 'PUFF' seu cabelo ficou longo, no cumprimento da cintura. –
Talvez uma cor diferente combine também... – 'PUFF' seu cabelo agora estava
azul.
- Uau! – “Isso
quer dizer que ela é de fato a morte!”– pensou aterrorizantemente encantada.
- Você
acha que eu exagerei?
- Na
verdade acho que isso não muda o fato de você ser a morte.
- Então
você não gostou?
- Não foi
o que eu disse! Só falei que sua responsabilidade continua sendo a mesma.
"PUFF"
E ela voltou ao normal e deitou-se novamente.
- Tem
razão...
- Existem
pessoas que estão esperando por você, talvez elas estejam tão agoniadas em seus
leitos, ansiando o momento que você as conduzirá para a luz. Só você pode fazer
isso.
- Você
está completamente certa! - A Morte se animou e então sentou-se. - Muito
Obrigada! Você foi extremamente gentil comigo, em retribuição, não a levarei
hoje e assim pago minha divida contigo, mas sugiro que contrate uma nova
secretária, pois a madame Montrevill acaba de se engasgar com uma torrada.
Obrigada por me lembrar da minha importância, agora devo ir e desangustiar a
Magda. Adeus, até a sua chegada ao outro lado, ou venha me visitar, Travessa
das Almas Nº 1459.
P.S: Desfecho não me agradou
muito, mas estava com sono quando escrevi então dou um desconto a mim mesma!
Texto da colunista Julia Barbosa
Nenhum comentário:
Postar um comentário