Casa na margem do Rio São Francisco, em Cabrobó-PE |
* Texto abaixo escrito por mim em 2004, aos 15 anos. Nesta época eu só havia ido a Cabrobó uns 6/7
anos atrás e não tinha muitas lembranças da cidade, mas por ter uma estranha saudade
de ir lá, resolvi escrever algo que mencionasse a cidade onde minha mãe nasceu.
De Cabrobó aos States
Júlia, menina bonita, charmosa.
Saiu em capa de revista e jornal, em um anúncio policial. Tinha tudo para
vencer na vida, mas de repente enlouqueceu e foi ser bandida. Em todos queria
botar moral, ela se achava a tal. Sua família achava lhe conhecer, mas o caso é
que não lhe viram crescer.
Saiu de casa aos quatorze anos
para estudar no exterior, se juntou com uns malandros e para a casa deles se
mudou. Não quis mais saber de estudar e para a “casa de estudantes” não quis
mais voltar.
Conheceu Marquinhos do motel,
e Jurandir sequestrador. Foi lá no motel do mineiro que ela dormiu com o João
Atirador.
Foi aí que a Júlia se deu mal,
apostando grana no Jogo de pinball. Ficou lisa, quebrou geral, enlouqueceu e
quase se jogou em um canal. Aí Júlia ficou sem saber o que fazer quando
descobriu que agora tinha um bebê.
Júlia arrependida da vida,
daquela terra não quis mais saber. E na volta pro seu país acabou conhecendo
Eduardo Diniz, que lhe prometeu a felicidade trazer. Porém apesar de a Júlia já
ser maior de idade, ela uma menina ingênua que adorava ir à Cabrobó comer
geleia de mocotó e rever sua cidade.
Enfim Júlia se juntou com o
Diniz e fazer o que prometeu ele não quis. Levou Júlia para a favela da Rocinha
e ela aprendeu a tocar pandeiro lá no Rio de Janeiro, assim que chegou ao país.
Ela não sabia que Eduardo já foi um padre disfarçado, que raptava as mocinhas
da linha do trem e ali mesmo fazia o xenhenhem.
Júlia ficou sabendo do caso
das mocinhas, teve uma recaída na sua loucura e a levaram para sua terrinha.
Não era uma “terrinha”, era um “terrão”, onde sua mãe matava porco e seu pai
tocava baião.
Sua mãe quando a viu foi na
quitanda do Sr. Gil. Ficou tão horrorizada que a coitada fugiu. Júlia,
emocionada, correr atrás não conseguiu. Passou em sua casa e novamente toda a
família ela viu.
Pedro, trabalhador, quis saber
de quem foi a culpa de que não lhe educou. Esqueceu-se que naquela época era um
moço cachaceiro, e que agora já era “sinhô”, que naquela época não era um pai
educador.
Júlia contou tudo direitinho,
que lá nos Estados Unidos não usava “radinho”. Contou que lá era a moda do
computador, aparelho de som e aspirador. Sua família era rica, mas não conhecia
essas modernidades, pediram que ela contasse tudo com detalhes. Mas a coitada
da Júlia não queria ver a família sofrer e pulou a principal parte da história.
Não mentiu, apenas não contou pra valer.
Já se passara quatro anos, Júlia
com suas duas filhas sem os pais para dar amor. A mais nova era filha de
Eduardo Diniz e a mais velha era de João Atirador. Não sabiam quem eram seus
pais, não tiveram esse valor.
Mas de uma hora pra outra o
João apareceu lá na terra do pau comeu, enrolando umas conversas que da menina
mais nova ele era avô. Júlia não entendeu que mera coincidência aconteceu! Mas
o Pedro não quis saber, pegou um pau para bater no desgraçado do seu João que
veio com uma embromação. Oxente, quanta confusão no meio do matagal, assustando
a plantação. Tudo culpa de uma mulher que foi menina e que agora está
enlouquecida? Ela fugiu deixando as filhas.
Coitada da Júlia. Endoidou,
virou bandida e agora está em capa de jornal e revista dando entrevista.
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