terça-feira, 7 de agosto de 2018

A importância do ângulo que se olha

A perspectiva que se olha para um determinado ponto em questão pode ser decisivo, sobretudo na vida do observador. O filme, "O olho do observador", de 1955, mostra a trama criminosa que envolve um homicídio num quarto de um pequeno prédio de uma gélida cidade estadunidense. A forma com que as pessoas envolvidas dentro daquela trama observam a cena do crime acaba que colocando como culpados diversos suspeitos – inclusive inocentes. Ou seja, nas mais diversas percepções acerca do verdadeiro criminoso, o subjetivo alheio acaba que colocando no banco dos réus uma pessoa diferente a partir do ponto de vista do observador: para a recepcionista o criminoso foi uma pessoa, para o porteiro do prédio foi outra, para o taxista outra, e assim por diante. Nunca a máxima de que "as aparências enganam" foi tão válida! O olho do observador, sempre e a partir de uma série de observações e critérios subjetivos, finda por incriminar alguém inocente. Ou seja, o olho do observador está munido e permeado de toda uma carga subjetiva que por muito, ofusca a objetividade dos fatos e faz emergir todo um conteúdo permeado de crenças emotivas – as versões acabam tendo mais relevância do que o próprio fato em si. E existem versões falsas que teimam em se travestir de verdadeiras.

As versões podem ser meros "patologos", justamente por não possuírem muita conexão com a realidade - mas que acabam por prevalecer. [1] E por prevalecer, não só adoecem, mas visa concretizar aquela famigerada ideia: "uma mentira dita muitas vezes, pode se tornar uma verdade". Observe à problemática: digamos que duas pessoas observam a representação do número seis. Suponha-se que o número seis se encontre deitado na posição lateral, de modo que as duas pessoas se encontrem nas extremidades da representação numérica a observando – cada uma de um lado. Dito de outra forma; suponha-se que uma pessoa observa-o por um ângulo cujo qual o observador veja o número seis de fato, enquanto que a outra pessoa o observe por outro ângulo cujo qual lhe mostra não o número seis em si, mas sim o número nove. Digamos que ambos comecem a discutir alegando a defesa de seus respectivos pontos de vista. Quem estaria certo ou errado, haja vista que um ângulo mostra de fato o número seis e o outro ângulo mostra, de fato, o número nove? Se uma das duas pessoas não tiver a paciência de atentar para a forma com que cada uma enxerga as coisas, o ângulo, o ponto de vista, a perspectiva, etc., talvez a querela não finde mais. 

Eis a importância de se ter a consciência da perspectiva e do ponto de vista que se enxerga as coisas. Não fora isso a humanidade nunca teria conhecido um de seus maiores gênios – Thomas Alva Edison! Thomas Edison deu importantes contributos para o avanço da ciência moderna com suas invenções e descobertas que influenciaram e muito o progresso da humanidade: a câmera cinematográfica e a lâmpada elétrica são duas das principais. E é sobre esta segunda que refletiremos. 

Costumo afirmar o seguinte: quem tem uma lâmpada em casa não tem motivos para se desesperar por causa dos fracassos que a vida traz no vento. Pois a lâmpada é, se não o maior, um dos maiores símbolos de persistência e superação do fracasso que já existiu. Thomas Edison fracassou mil vezes nesse projeto, que sempre explodia quando colocado em prática. A história nos mostra que o prodigioso cientista tinha uma espécie de ajudante que o auxiliava nos experimentos em seu laboratório caseiro. Tal ajudante chegou a tecer o seguinte comentário sobre o projeto da lâmpada elétrica:

"Sir. Edson, esse projeto já fracassou pela milésima vez, é melhor desistir!"

Seu patrão teceu a seguinte resposta: 

"Desistir!?" – continuando após o espanto da proposta - "logo agora que eu conheço mil formas de como não fazer!? Logo agora que eu conheço mil caminhos cujos quais não devo seguir!?" 

Percebam que aqui se encontram duas pessoas observando o mesmo projeto, porém de pontos de vista diferentes, de perspectivas e de ângulos distintos. Thomas Edison entendia que estava mais perto do êxito justamente por conhecer mil formas de como não fazer. Seu ajudante já reconhecia o insucesso pelas tentativas que não deram certo. É por isso que hoje sabemos quem é Thomas Edison e nem se quer sabemos de quem se trata este tal ajudante – nem mesmo seu nome chegou até nós! Conta a história ainda que na milésima primeira tentativa a lâmpada acendera e, com isso, a história da humanidade seria impactada para sempre com a invenção da lâmpada elétrica. 

Thomas Alva Edison, inventor da luz elétrica

Tudo depende do ângulo que se olha! Não existe problema em fracassar. O problema é quando o fracasso retira sua força de tentar. O problema maior é quando o fracasso gera no indivíduo um discurso doentio que o fará viver alimentado pela ideia de ser um pobre coitado carente da piedade alheia – isso sim é um problema. Não existe problema em fracassar, o problema é aderir para sempre um discurso de fracassado. Não existe problema em fracassar, o problema é enxergar o aparente insucesso, ou o fracasso em si, pelo ângulo errado! Os grandes nomes da história já fracassaram, uma ou mais de uma vez. Mas não se tornaram conhecidos pela importância que deram ao fracasso ou pelo discurso de fracassado que aderiram. Ficaram conhecidos pela persistência e pela forma que interpretavam o fracasso: Enquanto muitos viam o fim de tudo no fracasso, eles viam um novo começo em cada fim. Assim continuaram a caminhada! O fracasso serve para pavimentar a estrada para que a caminhada continue, e não para construir muros de contensão que impeçam o caminhar! 

Caminhar é preciso e necessário! 


[1] Patologos é uma espécie de discurso doentio que o indivíduo repercute. Muitas vezes sobre ele próprio.


Um texto do colunista Thiago Azevedo

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