Há uns dias estava saindo com um cara bem legal. Não cheguei a me apaixonar e certamente ele também não. Numa de nossas conversas por mensagens de celular no meio da semana falei que eu queria vê-lo logo, se possível na noite daquele dia. Ele perguntou-me o porquê, o que faríamos.
- Coisas inadiáveis. – respondi.
Dias depois nos reencontramos, no fim de semana. Eu estava de carro e com fome, pensei em pegá-lo para irmos comer algo e termos uma conversa boa, cheia de risadas e olhares. Ele entrou no carro, mas não quis ir para algum lugar. Preferiu ficar ali me olhando na escuridão do carro. Achei estranho, não era isso o que eu esperava. Então eu o abracei quando me perguntou se eu estava com saudades. E sim, eu estava. Muita. E não via o porquê negar o que sentia. Não sei ser morna, ser meio termo. Não sou assim. Ou sinto, ou não sinto. E independente do que sinto, digo, assumo riscos. Então eu disse.
- Estava com saudade de você, desse cheiro no teu pescoço, dos teus braços.
E falar isso foi como ligar algo nele que o fez sair do controle sexual que eu achei que ele teria comigo. Era sábado, noite, e eu esperava um encontro divertido regado a risadas, me via então dentro da escuridão do carro com alguém totalmente diferente do que eu havia conhecido na semana anterior. “Esse cara tá doido?!” – pensei, mas deixei passar. No entanto eu recusei qualquer tentativa dele de querer estar e fazer comigo algo que eu não queria. Que nunca quis com ninguém, ainda mais dentro do carro.
Diante da minha insistente recusa, ele, o cara doido que eu achava que seria um cara legal, questionou-me sobre o que durante a semana falei: quero fazer coisas inadiáveis. Que coisas inadiáveis, então, são essas?
Eram coisas simples, mas que me dão um prazer imenso e intenso. São coisas que as pessoas já não valorizam mais. Coisas que a humanidade tem adiado: uma conversa boa dos assuntos mais frívolos aos mais polêmicos; a felicidade na simplicidade; a paz; o abraço; o olho no olho; o toque das mãos; compartilhar uma refeição; admirar o por do sol e o surgir da lua; uma viagem de última hora. Mas estão trocando por coisas adiáveis e momentâneas: vulgaridade; instinto; prazer; pele.
Eu não era obrigada a fazer o que ele queria, não era obrigada a fazer o que eu não mencionei que queria só porque ele criou suas próprias expectativas. Um encontro com um idiota deve ser sempre uma coisa adiável.
Inadiável é o encontro que acontece por impulso porque não se pode mais esperar para ver alguém que deseja nossa alma todos os dias mesmo a distante, inadiável é o beijo que nasce de um abraço e que é inesquecível, inadiável é o encontro secreto mo meio do dia que esta guardado apenas na lembrança de duas pessoas. Inadiável é o sentimento pela leitura e pelas mãos que escreveram as palavras.
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