terça-feira, 13 de junho de 2017

Achei que havia te superado

Imagem do site: http://www.maecorujasa.com/2015/11/oracao-gravidas-gestantes.html

Oito meses se passaram e eu já não estava mais nem aí pra nada, nem ‘thum’ pra ti. Estava tão, mas tããão convicta da minha superação que até compus uma música anunciando que eu te superei.
Não demorou muito tempo para que eu constatasse, ao acordar cedinho numa manhã de sábado, que eu na verdade não havia te superado. Ou pelo menos não como eu gostaria. Sei lá, ficou algo meio ‘coisado’ entre nós, né?! Mas eu só me dei conta disso quando naquela noite de sexta tive um sonho tão esquisito.
Nós morávamos noutro lugar que não o que moro agora e, não recordo o porquê, estava em teu apartamento com a minha mãe e o meu irmão. E você, claro. Mas porque eu estaria em teu apartamento com minha mãe e meu irmão se eles nunca tiveram qualquer aproximação contigo? E até mesmo no sonho eles não tinham. Acordei recordando claramente a minha cara de vergonha quando meu irmão arrotou na mesa do jantar. Fiquei de cara com isso. Acordei até meio aliviada por não ter sido real, mas ao mesmo tempo desejando muito que tivesse. Que aquele jantar tivesse acontecido na noite anterior e que eu estaria acordando cedo no sábado porque iria andar de bicicleta contigo.
Não era real. Eu não jantei contigo na noite anterior e nós não iríamos andar de bicicleta no final de semana. Nem me adiantava olhar pela janela do quarto pra ver se te encontrava preparando teu carro para um sábado de trilha ciclista, pois eu nem via mais teu carro já há semanas. – “Ele se mudou mesmo para a casa dela!” – pensava. Mas pensava com um sentimento de paz. Porém, naquela manhã de sábado, com pesar.
Eu não te superei! Eu ainda olho se teu carro está estacionado na minha porta. Eu ainda me pergunto como está a tua vida. Eu ainda queria ser a pessoa que aparece contigo nas fotos fixas do teu Instagram. Eu ainda queria ser aquela que aplaude teu show quando você toca ou que simplesmente sorri apaixonada ao te ver dedilhar o violão na orla da nossa piscina.
Eu não te superei e me dei conta disso agora, quando vim ao terraço de casa pra estender uma toalha no varal e te avistei pela varanda, parando o carro na minha porta.
“Por que você tinha que vir aqui logo agora?” – pensei. Debrucei-me no parapeito. Coração palpitava acelerado. As roupas balançavam no varal. Música soava no assobiar dos pássaros. Era manhã de sábado e você voltou! Desceu do carro, abriu a porta de trás, pegou um ramalhete de rosas vermelhas e foi à portaria. Virei-me de costas para tudo aquilo. Suspirei. – Ele voltou! Será que veio me pedir perdão? Será que veio pedir pra voltar? Impossível! Ele é canalha demais pra isso. – Voltei a olhar-te da varanda e então vi o que eu deveria esperar... ELA estava no teu carro.
O interfone tocou. Gelei. Suspirei. E pensei em quinze milhões de coisas ao mesmo tempo. E chorei. E andei até a cozinha para atender o toque insistente, mesmo com a imagem daquela mulher passando batom e olhando-se no retrovisor interno que eu já havia me olhado tantas vezes.
- Bom dia!
- Bom dia, dona Jéssica. Jonas está aqui.
Eu não sabia o que responder. Queria dizer ao porteiro que te pedisse pra me esperar, que eu iria descer. Queria descer correndo e me debruçar no teu pescoço, beijar teus lábios e contemplar o teu sorriso mais uma vez e para sempre. Queria que o filho em meu ventre fosse teu. 


Trecho de livro ainda não publicado. Um texto de Aline Menezes, criadora do Blog O Quarto de Aline

Um comentário:

  1. Caramba! Que forte! a cena da personagem na janela, vendo lençóis ao vento e som de pássaros assobiando no ar é tão surreal, mas quando fecho os olhos e imagino, tudo fica bastante real na minha mente. Que belo texto, Parabéns!!!

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