Imagem do site: http://www.maecorujasa.com/2015/11/oracao-gravidas-gestantes.html |
Oito meses se passaram e eu já não estava mais nem aí pra
nada, nem ‘thum’ pra ti. Estava tão, mas tããão convicta da minha superação que
até compus uma música anunciando que eu te superei.
Não
demorou muito tempo para que eu constatasse, ao acordar cedinho numa manhã de
sábado, que eu na verdade não havia te superado. Ou pelo menos não como eu
gostaria. Sei lá, ficou algo meio ‘coisado’ entre nós, né?! Mas eu só me dei
conta disso quando naquela noite de sexta tive um sonho tão esquisito.
Nós morávamos
noutro lugar que não o que moro agora e, não recordo o porquê, estava em teu
apartamento com a minha mãe e o meu irmão. E você, claro. Mas porque eu estaria
em teu apartamento com minha mãe e meu irmão se eles nunca tiveram qualquer
aproximação contigo? E até mesmo no sonho eles não tinham. Acordei recordando
claramente a minha cara de vergonha quando meu irmão arrotou na mesa do jantar.
Fiquei de cara com isso. Acordei até meio aliviada por não ter sido real, mas
ao mesmo tempo desejando muito que tivesse. Que aquele jantar tivesse
acontecido na noite anterior e que eu estaria acordando cedo no sábado porque
iria andar de bicicleta contigo.
Não era
real. Eu não jantei contigo na noite anterior e nós não iríamos andar de
bicicleta no final de semana. Nem me adiantava olhar pela janela do quarto pra
ver se te encontrava preparando teu carro para um sábado de trilha ciclista,
pois eu nem via mais teu carro já há semanas. – “Ele se mudou mesmo para a casa
dela!” – pensava. Mas pensava com um sentimento de paz. Porém, naquela manhã de
sábado, com pesar.
Eu não te
superei! Eu ainda olho se teu carro está estacionado na minha porta. Eu ainda
me pergunto como está a tua vida. Eu ainda queria ser a pessoa que aparece
contigo nas fotos fixas do teu Instagram. Eu ainda queria ser aquela que
aplaude teu show quando você toca ou que simplesmente sorri apaixonada ao te
ver dedilhar o violão na orla da nossa piscina.
Eu não te
superei e me dei conta disso agora, quando vim ao terraço de casa pra estender
uma toalha no varal e te avistei pela varanda, parando o carro na minha porta.
“Por que
você tinha que vir aqui logo agora?” – pensei. Debrucei-me no parapeito.
Coração palpitava acelerado. As roupas balançavam no varal. Música soava no
assobiar dos pássaros. Era manhã de sábado e você voltou! Desceu do carro,
abriu a porta de trás, pegou um ramalhete de rosas vermelhas e foi à portaria. Virei-me
de costas para tudo aquilo. Suspirei. – Ele voltou! Será que veio me pedir
perdão? Será que veio pedir pra voltar? Impossível! Ele é canalha demais pra
isso. – Voltei a olhar-te da varanda e então vi o que eu deveria esperar... ELA
estava no teu carro.
O
interfone tocou. Gelei. Suspirei. E pensei em quinze milhões de coisas ao mesmo
tempo. E chorei. E andei até a cozinha para atender o toque insistente, mesmo
com a imagem daquela mulher passando batom e olhando-se no retrovisor interno
que eu já havia me olhado tantas vezes.
- Bom dia!
- Bom dia,
dona Jéssica. Jonas está aqui.
Eu não
sabia o que responder. Queria dizer ao porteiro que te pedisse pra me esperar,
que eu iria descer. Queria descer correndo e me debruçar no teu pescoço, beijar
teus lábios e contemplar o teu sorriso mais uma vez e para sempre. Queria que o
filho em meu ventre fosse teu.
Trecho de livro ainda não publicado. Um texto de Aline Menezes, criadora do Blog O Quarto de Aline
Caramba! Que forte! a cena da personagem na janela, vendo lençóis ao vento e som de pássaros assobiando no ar é tão surreal, mas quando fecho os olhos e imagino, tudo fica bastante real na minha mente. Que belo texto, Parabéns!!!
ResponderExcluir